Sunday 16 April 2017

Paper to be presented at WSM Conference 2017

Next May 16, 2 pm, we will be at the World Social Marketing, Conference, in Washington, to present this paper:
A National Policy Process on Social Marketing: The British Case

Acknowledgements

Conducted between 2004 and 2015, this research was partially supported by Calouste Gulbenkian Foundation, Foundation for Science and Technology and CEBI Foundation. I thank Jeff French and all the National Social Marketing Centre staff. And also Fiona Adshead, Julie Alexander, Mehboob Umarji, Bruno Jobert, Pierre Muller, and Vivien A. Schmidt. All of them provided information, expertise and support that greatly assisted this research during all the years that it lasted.


Abstract


Since 2004, the British government has delivered a wider national policy on social marketing that has created a new frame of reference in this field. Using a cognitive approach, this research studies the genesis, evolution, and implementation of that policy process that led to an important development in British public health policy, with the aim of improving social behaviour change and wellbeing. The conclusions advance a generic framework for a national policy on social marketing, as a contribution to the conception and development of similar policy solutions in other situations and countries, according to appropriate transfer and implementation. This paper was done on the basis of the author’s book Social Marketing in a Country, The British Experience (Charleston, SC: CreateSpace, 2016).

Tuesday 11 April 2017

Um mau artigo


Em Junho de 2015, foi-me pedida a revisão de um artigo submetido à Revista Portuguesa e Brasileira de Gestão. Tratava-se de um artigo com inúmeros erros e importantes omissões. Qual não foi o meu espanto ao ver o artigo publicado, sem correcções, no vol. 14, n.º 3, Setembro de 2015, pp. 26-36, da referida revista, assinado por Ana Teresa Tavares e Rita Espanha, com o título «Marketing social: de curto passado a futuro promissor», integrado num estudo de doutoramento da primeira, orientado pela segunda. Para que conste, aqui fica, publicamente, a minha revisão crítica (segundo a grelha da revista) e a minha profunda lamentação pela maneira irresponsável como se editam coisas destas, em Portugal. Quem desejar ler o artigo em causa, encontra-o disponível em http://www.scielo.mec.pt/pdf/rpbg/v14n3/v14n3a04.pdf .


REVISÃO

PONTOS FORTES

Este artigo não tem, sejamos claros, pontos fortes. Sob a capa de uma acumulação de nomes e referências, não passa de um mero atrevimento de quem não tem qualquer conhecimento sério de ciência e, especificamente, de marketing social, nomeadamente da sua posição em Portugal.

PONTOS FRACOS

O que se espera, em ciência, é a compilação sistemática de todo o conhecimento disponível e o desenvolvimento de processos e conhecimentos que o analisem, reorganizem, disseminem ou, acima de tudo, introduzam mais aperfeiçoados aspectos e perspectivas. Poder-se-ia esperar que este artigo fosse uma review do marketing social, tendente a apresentá-lo em Portugal. Para tal teria de ser, no mínimo, sistemático e rigoroso quanto ao conhecimento produzido nesta área, neste momento. No máximo, teria de introduzir uma nova síntese e avaliação do conjunto desse conhecimento. Não é uma coisa nem outra!

Começa, nomeadamente, pela falta de leitura e estudo de um texto fundador e essencial como o de Wiebe (este autor é assiduamente citado por inúmeros «autores», que querem palrar sobre marketing social, sem nunca o terem sequer lido, o que leva a citações repetidamente erradas; a referência correcta de Wiebe é Wiebe, G. D. (1951- 1952). «Merchandising commodities and citizenship on television». Public Opinion Quarterly, 15 (Winter), pp. 679-691. Os autores deste artigo, como não o leram e muito menos estudaram, chegam a referir-se a ele nestes termos incríveis: «Wiebe em 1952 “Why can´t you sell brotherhood and rational thinking like you sell soap” (Salmon, 1989; Andreasen, 2002; Stead et al, 2007a)»… com esta palhaçada de citar três autores para citar mal e não ter lido o único que deveria ser lido, estudado e referido correctamente: Wiebe.

A partir daqui, tudo não passa de uma «pesca» de referências, claramente desconhecidas das autoras ou não conhecidas com profundidade e ponderação, nos originais e no seu enquadramento devido. Um mero exemplo: na teoria do marketing social, é incontornável, não há ninguém credível que o negue, o desenvolvimento introduzido por Alan Andreasen, especificamente em Andreasen, A. R. (2006). Social Marketing in the 21st Century. Thousand Oaks, CA: Sage (na senda, aliás, de Goldberg, M. E. (1995). «Social marketing: are we fiddling while Rome burns?». Journal of Consumer Psycologhy, 4 (4), pp. 347-370). Trata-se da consideração de um papel alargado (wider role) do marketing social, agregando dois níveis: uma abordagem directa (downstream approach), visando os indivíduos envolvidos em comportamentos a melhorar; e uma abordagem envolvente (upstream approach), dirigida a factores estruturais e sociais, dependente dos respectivos decisores. Foi este desenvolvimento conceptual que reforçou a necessidade, no âmbito nomeadamente das políticas públicas, de enquadramentos contextuais e nacionais das acções de marketing social, tendo em vista a consistência e eficácia das suas intervenções pontuais. Pois bem, nesta pretensão de paper não há absolutamente nenhuma referência a esta referência fundamental.

Por outro lado, Portugal não se encontra, de modo nenhum, numa fase de «apresentação» do marketing social, que este proposto paper quer fazer supor. Aquela disciplina já é leccionada aqui, pelo menos, desde 1992; tem autores formados em prestigiadas escolas estrangeiras (University of South Florida, University of Stirling, University of Manchester, entre outras); tem fundadores de organizações internacionais (European Social Marketing Association), tem personalidades que já exerceram importantes funções internacionais (Paulo K. Moreira, director adjunto da unidade de Health Communication do European Centre for Disease Prevention and Control, ECDC); tem diversas teses sérias apresentadas em universidades portuguesas; tem publicações que merecem atenção e respeito – que o autor desconhece ou não refere; tem pessoas que participam assiduamente em importantes conferências internacionais, uma delas, aliás, realizou-se em Lisboa, a 1st European Social Marketing Conference, em 2012, com a presença de destacadas referências internacionais, como Jeff French – que veio, aliás, ao ISCTE-IUL, em 2011, para um curso e conferência – ou Gerard Hastings. Assim sendo, querer surgir, no nosso país, como «apresentadoras» do marketing social, agora, como as autoras o fazem, é, no mínimo, ridículo.

Em suma, este artigo é uma maneira de querer aparecer na ciência, que deve ser repudiada pelos cientistas e substituída, a admitir que isso é possível, pelo estudo profundo, sistemático, demorado, participado, com humildade e grande sentido autocrítico, sem exibicionismos e pressas. Pessoas como as autoras desta pretensão de paper científico devem ser bem orientadas naqueles sentidos e uma instituição universitária como o ISCTE-IUL e a sua Revista Portuguesa e Brasileira de Gestão não devem acolher nem permitir coisas como esta.

O estilo mediático de pensamento que domina a actualidade, feito de simplismo, ignorância intencional, exibicionismo, imediatismo, palavreado e irresponsabilidade, onde títulos de doutor e professor já pululam impunemente, deve ser totalmente rejeitado pela ciência e pelas publicações científicas.



SUGESTÕES PARA MELHORIA

Tal como está, esta pretensão de paper científico não tem, na verdade, hipótese de melhoria, já que exige a completa reformulação dos seus fundamentos, processos e objectivos.



QUANTO AO TÍTULO

A afirmação do título não tem fundamento (o marketing social foi enunciado formalmente em 1971, tem ampla implantação pelo mundo, revistas científicas próprias, enormes congressos e conferências, tem várias associações nacionais e internacionais, tem importante aplicação em intervenções e instituições sociais). Considerar isto, no âmbito do marketing – que, já de si, tem, apenas, pouco mais de cem anos –, «uma área de curto passado», não é correcto. O marketing social, tal como outras áreas do marketing, que foram nascendo na segunda metade do séc. XX, tem já uma existência sólida e um considerável capital crítico, dispensando quem o venha, com ar de «descobridor da pólvora», dar como «de curto passado», sobretudo quando se trata de alguém que nunca o acompanhou com profundidade.

Por outro lado, quanto ao «futuro promissor», para sustentar essa declaração o autor teria de aplicar correctamente métodos de prospectiva ou conexos (trendwatching, foresight, future studies, delphi, etc), para demonstrar essa afirmação. De outro modo, é melhor ficarmo-nos pela astrologia da Maia.



QUANTO AO RESUMO (demonstrar as principais partes do artigo – objectivo, problema, aspectos teóricos, metodologia e resultados –, objectividade, consistência e clareza)

Nada disso ele possui. Apenas uma definição «confusionista» de marketing social, uma afirmação de review, que já se viu o que é (não é!), e uma conclusão, que já se viu com que fundamento: nenhum.



QUANTO AO CONTEÚDO (argumento, desenvolvimento, metodologia, conclusão, etc.)

Para além do que já foi dito, é gritante a ausência de uma abordagem explícita da metodologia usada. Uma review é um importante processo de estudo e implica que um autor deixe claros os seus critérios e como os processou.

Para saber abordar uma review, recomendo uma abordagem básica (mas inteligente) da Trent University, que também recomendo, aliás, aos meus alunos de graus bem mais baixos do que o doutoramento (disponível em https://www.trentu.ca/academicskills/documents/ASC_Writing_Academic_Reviews_Final.pdf).



QUANTO À FORMA (estrutura, linguagem, legibilidade, etc.)

Uma sucessão de referências, más cópias e afirmações dadas como evidências, mas sem qualquer consciência séria do que se está a dizer. Um exemplo: cita-se Dann, 2010 (já agora conviria saber em que página, o que efectivamente ele diz e como o sustenta), para dizer que houve «quarenta e cinco definições académicas revistas por pares em quarenta anos de atividade da disciplina», pretendendo-se fazer erudição sobre o assunto. Esperar-se-ia, contudo, que um paper escrito em 2015 apreciasse as reflexões de definição feitas até hoje. Mas sobre isso nada, nomeadamente os importantes contributos dados por Nancy Lee et al. [ver Lee, N. R., Rothschild, M. L. & Smith, W. (2011). «A declaration of social marketing’s unique principles and distinctions». Leaflet published by the authors] ou em Gerard Hastings et al. [ver Hastings, G., Angus, K. & Bryant, C. (eds) (2011). The Sage Handbook of Social Marketing. London: Sage Publications], até muitos outros autores importantes, desde 2010, incluindo os recentes e importantes volumes editados por David W. Stewart [ver Stewart, D. W. (ed) (2014). Persuasion and Social Marketing. Santa Barbara, CA: Praeger], bem como o importante ECDC Technical Document [ver European Centre for Disease Prevention and Control (2014). Social marketing guide for public health managers and practitioners. Stockholm: ECDC – é incrível alguém que está a estudar «O envolvimento dos portugueses com temas de saúde pública: um contributo para as estratégias de marketing social e comunicação de assuntos públicos» (nome da tese em causa) e não conhecer este documento!!! Mas que doutoramentos são estes???] ou a mais recente abordagem de Jeff French e Ross Gordon [French, J. & Gordon, R. (2015). Strategic Social Marketing. London: Sage Publications]


COMENTÁRIOS ADICIONAIS PARA AS AUTORAS

Coisas de base. Estudar com muita seriedade. Ser sistemático, ser crítico, sobretudo de si próprio. Ser exigente. Aconselhar-se com cientistas sérios e provados. Frequentar fóruns com pessoas relevantes para esta área, que pretendem estudar. Quando entenderem que podem dar um contributo, devem focar-se num campo e numa óptica específica, onde possam experimentar, aprofundar e analisar cuidadosamente, por forma a produzirem um contributo efectivo, original e progressivo.

Se, por acaso, as autoras, para mal dos nossos pecados, já leccionam, então recomendo-lhes repensarem profundamente a sua atitude na vida e reflectirem bem no «crime» que é passar barbaridades, como as que têm nesta sua pretensão de paper, para pobres alunos. Se, também por acaso, as autoras foram orientadas por alguém para escrever esta pretensão de paper, então os mesmos conselhos se devem destinar a tal pessoa ou pessoas.

Diz-se, aliás, no texto, que se trata de algo feito «num curso de doutoramento». Nestes casos, sobretudo, é recomendável que se ponham os alunos a estudar a sério, com profundidade, com rigor, com tempo e que, quando se abalançarem a escrever algo, que o façam em âmbitos bem definidos, em proporções sensatas, em processos de acumulação razoável de conhecimento. Querer passar logo a um autor científico, publicado numa revista acreditada, sem estudar nem saber citar um autor fundador da área estudada, é uma clara insensatez, que descamba em óbvia desonestidade intelectual.


RECOMENDAÇÃO FINAL
Não publicar o artigo.